UMA BOLHA DE FARTURA NO EGITO
ENTENDENDO A CRISE SOB A VISÃO DE JOSÉ
Nesta
crônica o colunista do Estadão.com, Roberto DAMatta descreve como a Bíblia
se insere no moderno mundo da Economia e na Dança das Nações poderosas, nestes
tempos de crise na Europa e nos EUA.
Dados
como modelos a serem seguidos por todas, as nações a História mostra, como os
grandes estão dando lugar aos emergentes.
Nada
que História geral, e a Bíblia não mostrem cada qual sob um ângulo, físico
antropológico e físico espiritual divino.
José
do Egito é o Tipo desta dança das cadeiras, que o Escritor
coloca muito bem, em seu texto, mas que demonstra que a Soberania de Deus
permanece exaltando e humilhando, os pequenos e os poderosos, segundo seu
querer Soberano.
É
um texto para ler e meditar sobre ele, como a Bíblia pode e deve ser utilizada
como modelo diário em tudo.Em tempos de Crises Monetária a Bíblia dá o caminho a ser seguido.
Para nós brasileiros, que temos baixo indice de Poupança é lição de José é Tempo de Planejamento de José.
As autoridades Monetárias mundiais, as Autoridades responsáveis pela Economia, dita sustentável - vide Rio+20, deveriam ler como Deus ensina;
-guardar;
-proteger;
-cuidar
-descansar os bens duráveis da Terra, que infelizmente são fruto de um processo de gasto das chamadas commodities, sem planejamento.
É tempo de um Novo José, seria se não houvesse desvio colossal no seio das grandes nações, muitas chamadas gigantes do protestantismo, que já passou e a Visão e o sonho destas autoridades, não são mais interpretados, mas são sonhos de Consumo.
Para nós brasileiros, que temos baixo indice de Poupança é lição de José é Tempo de Planejamento de José.
As autoridades Monetárias mundiais, as Autoridades responsáveis pela Economia, dita sustentável - vide Rio+20, deveriam ler como Deus ensina;
-guardar;
-proteger;
-cuidar
-descansar os bens duráveis da Terra, que infelizmente são fruto de um processo de gasto das chamadas commodities, sem planejamento.
É tempo de um Novo José, seria se não houvesse desvio colossal no seio das grandes nações, muitas chamadas gigantes do protestantismo, que já passou e a Visão e o sonho destas autoridades, não são mais interpretados, mas são sonhos de Consumo.
É
UMA PROVA CABAL PARA OS CÉTICOS, da importância das Escrituras na vida da
humanidade.
Enquanto
alguns acham Bíblia coisa de crente sem conhecimento, um colunista do maior
jornal diário de São Paul,o usa as Escrituras de maneira, que possa fazer seus
leitores entender, que precisamos sonhar os sonhos de José e como Deus pode
usar um homem para mudar uma Nação e salvar o seu povo.
E
mais, ainda sob a égide do vencedor de todos os obstáculos e perdoador dos
erros dos seus irmãos, à despeito de suas agruras em cárceres e condenações sem
justiça.
Obs. no texto o colunista expõe a sua forma de ver o mundo, não se atenha a certos angulos do texto, busque o foco no mitte sobre José.
Mais telefones em Chicago...
23 de maio de 2012 | 3h 09
Há mais telefones em Chicago do que em toda a América Latina!
Ouvi essa frase do meu saudoso amigo Mário Roberto Zagari naquela São João
Nepomuceno dos anos 50. Hoje, a tal América Latina tem milhões de telefones e o
Brasil produz mais carrocerias de ônibus do que os tais Estados Unidos.
Houve um tempo no qual a Europa e os
Estados Unidos concebiam-se como sociedades concluídas. Havia um início do
mundo civilizado na Grécia e, depois dele, havia um mundo pronto e acabado -
perfeito na sua autocomplacência etnocêntrica - naquela região do Hemisfério
Norte em cujo oceano naufragou o Titanic - o maior e o mais avançado navio de
passageiros que o mundo jamais havia visto.
Quando meu amigo me passou essa
"informa-lição", eu fiquei tão assustado que não a esqueci. E aqui
estou a dizer ao leitor que sou de um tempo mais ou menos antigo; de um tempo
no qual havia uma cidade americana um tanto estranha. Essa Chicago que numa música
é cantada como uma cidade especial; noutra é uma urbe cambaleante e é também um
berço de bandidos que, no entanto, são presos.
* * * *
Se você chegou (Deus sabe como) a uma
certa idade (que é sempre uma idade incerta), é impossível não ler os jornais
sem se lembrar de José do Egito (filho de Jacó-Israel e Raquel), o decifrador
dos sonhos do faraó e, ele próprio, um sonhador. Pois como entender a lógica
dos sonhos sem sonhar?
Eis o sonho de José. "Fazíamos
feixes no campo e, de repente, o meu feixe ergueu-se e ficou de pé, enquanto
que os vossos puseram-se à volta e prostraram-se diante dele." Os irmãos
interpretaram imediatamente o sonho de José. Esse sonho, disseram, significa
que "tu reinará sobre nós, te tornarás nosso senhor?"
O filho favorito de Jacó despertava uma
inveja incontida nos seus irmãos. E ele, ingênuo, falava muito e dividia os
seus sonhos. Pior, ou tão grave quanto isso, era ser o filho preferido de Jacó.
O texto bíblico explica a preferência, acentuando que José era filho da velhice
de Jacó. O livro de Thomas Mann, José
e Seus Irmãos, vale-se do espírito da narrativa - do poder
conferido aos sonhos escritos; a isso que chamamos de "literatura",
para explicar que José era um "sonhador". O que atraía o amor do seu
pai era a sua capacidade de construir um mundo de sonhos.
De fato, mais adiante, quando José é
visto pelos irmãos já possuídos pelo ressentimento (esse irmão mais novo da
inveja) e decididos a eliminá-lo, um deles diz: "Eis que chega o
sonhador". (Gênesis, 37:2-18)
* * * *
Sabemos como os irmãos de José jogaram-no
numa cisterna fazendo-o morrer para sua tribo e família e, em seguida, como foi
encontrado por mercadores que seguiam em direção ao Egito
(que, naquele tempo, tinha mais templos do que todo mundo).
Mesmo socialmente morto, vendido e comprado,
José continua possuído por sonhos.
Recusa-se a ser a fantasia sexual da
mulher de Putifar, o mordomo eunuco do faraó. É falsamente denunciado e, preso,
decifra os sonhos do padeiro-mor e do copeiro-mor da Corte, encarcerados por
corrupção.
Gn.40.1 E ACONTECEU, depois destas coisas, que o
copeiro do rei do Egito, e o seu padeiro, ofenderam o seu senhor, o rei do
Egito.2 E indignou-se Faraó muito contra os seus dois oficiais,
contra o copeiro-mor e contra o padeiro-mor.3 E entregou-os a
prisão, na casa do capitão da guarda, na casa do cárcere, no lugar onde José
estava preso.4 E o capitão da guarda pô-los a cargo de José, para
que os servisse; e estiveram muitos dias na prisão.5 E ambos
tiveram um sonho, cada um seu sonho, na mesma noite, cada um conforme a
interpretação do seu sonho, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que estavam
presos na casa do cárcere.[...] 12 Então disse-lhe José: Esta é a
sua interpretação: Os três sarmentos são três dias;13 Dentro ainda
de três dias Faraó levantará a tua cabeça, e te restaurará ao teu estado, e
darás o copo de Faraó na sua mão, conforme o costume antigo, quando eras seu
copeiro.[...] 16 Vendo então o padeiro-mor que tinha interpretado
bem, disse a José: Eu também sonhei, e eis que três cestos brancos estavam
sobre a minha cabeça;[...]18 Então respondeu José, e disse: Esta é
a sua interpretação: Os três cestos são três dias;19 Dentro ainda
de três dias Faraó tirará a tua cabeça e te pendurará num pau, e as aves
comerão a tua carne de sobre ti.[...] 21 E fez tornar o copeiro-mor
ao seu ofício de copeiro, e este deu o copo na mão de Faraó, 22 Mas
ao padeiro-mor enforcou, como José havia interpretado.
Sua interpretação é perfeita: um dos
funcionários será salvo; o outro, decapitado. Percebe-se que o Egito antigo sem
telefones era distinto deste Brasil lotado de milhões de celulares. Pois, entre
nós, quando se trata de punir funcionários graúdos, cujos sonhos de
enriquecimento ilícito ampliam exponencialmente suas fortunas, não há faraó que
os condene. Nossos sonhos apenas dizem: nada lhes vai acontecer nem em três
dias nem em 30 anos!
1 E ACONTECEU que, ao fim de dois anos
inteiros, Faraó sonhou, e eis que estava em pé junto ao rio.2 E eis que subiam
do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado.3 E eis que subiam
do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; e paravam
junto às outras vacas na praia do rio.4 E
as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista
e gordas. Então acordou Faraó.5 Depois
dormiu e sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas
cheias e boas.6 E
eis que sete espigas miúdas, e queimadas do vento oriental, brotavam após elas.7 E as espigas
miúdas devoravam as sete espigas grandes e cheias. Então acordou Faraó, e eis
que era um sonho.... 9 Então
falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas ofensas me lembro hoje:10 Estando Faraó
muito indignado contra os seus servos, e pondo-me sob prisão na casa do capitão
da guarda, a mim e ao padeiro-mor,...
12 E estava ali conosco um jovem hebreu, servo do capitão
da guarda, e contamos-lhe os nossos sonhos e ele no-los interpretou, a cada um
conforme o seu sonho.... 14 Então
mandou Faraó chamar a José, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e
mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó.15 E Faraó disse a José: ...; mas de ti
ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas.16 E respondeu José
a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó.
Mas no velho Egito havia condenação como
havia recompensa. E foi assim que José, graças ao ministro salvo, chegou a ter
contato direto com o rei deus obcecado por dois sonhos recorrentes que, na
verdade, como José explicou, não eram dois, mas apenas um e denso sonho que não
o deixava dormir.
Reunido com sua corte na Brasília do seu
tempo, o faraó conta seus sonhos indecifráveis. Sete vacas gordas são devoradas
por sete vacas horrorosas. Sete espigas maduras se curvam diante de sete
espigas feias e secas pelo vento.
* * * *
José não é nenhum economista, pois Deus -
sempre misericordioso - só veio a inventar a economia alguns séculos depois,
quando a exploração do trabalho atingiu o seu cume, criando espigas cheias e
belas que comiam sem parar as magras e feias. Mas com a precisão e a autoridade
cortante de um Mario Simonsen ou de um Delfim Netto, ele não hesita em falar o
que lhe cabe.
José diz mais ou menos o seguinte - deixe
a preguiça e veja em Gênesis 41-47: toda fartura em excesso é uma bolha. [41.46 E
José era da idade de trinta anos quando se apresentou a Faraó, rei do Egito. E
saiu José da presença de Faraó e passou por toda a terra do Egito. 47 E nos sete anos
de fartura a terra produziu abundantemente.48 E ele ajuntou todo o mantimento dos
sete anos, que houve na terra do Egito; e guardou o mantimento nas cidades,
pondo nas mesmas o mantimento do campo que estava ao redor de cada cidade.49 Assim ajuntou José
muitíssimo trigo, como a areia do mar, até que cessou de contar; porquanto não
havia numeração.]
Sete anos com grandes ofertas serão
seguidos de sete anos de penúria.
O rei deus deve evitar que a fartura se
transforme em bolhas. A oferta deve ser domesticada como um meio de prevenir os
anos de privação. José foi o primeiro ministro do planejamento veraz e
competente da História. Foi um sonhador. Sonhou que era possível conciliar
riqueza e pobreza, fartura e penúria, cargos públicos e honra.
[41.53 Então acabaram-se os sete anos de
fartura que havia na terra do Egito.54 E
começaram a vir os sete anos de fome, como José tinha dito; e havia fome em todas
as terras, mas em toda a terra do Egito havia pão.55 E tendo toda a
terra do Egito fome, clamou o povo a Faraó por pão; e Faraó disse a todos os
egípcios: Ide a José; o que ele vos disser, fazei.56 Havendo, pois,
fome sobre toda a terra, abriu José tudo em que havia mantimento, e vendeu aos
egípcios; porque a fome prevaleceu na terra do Egito.]
Mais que isso, percebeu a dificuldade de
interpretar sua própria história, pois, como diz Thomas Mann, é comum não
compreendermos a nossa história. A não ser como sonhadores dispostos a perdoar,
como José.
Gn.45. 1 ENTÃO José não se podia conter diante de todos os que
estavam com ele; e clamou: Fazei sair daqui a todo o homem; e ninguém ficou com
ele, quando José se deu a conhecer a seus irmãos.2 E levantou a sua
voz com choro, de maneira que os egípcios o ouviam, e a casa de Faraó o ouviu.3 E disse José a
seus irmãos: Eu sou José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam
responder, porque estavam pasmados diante da sua face.4 E disse José a
seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se; então disse ele: Eu sou
José vosso irmão, a quem vendestes para o Egito.5 Agora, pois, não vos entristeçais,
nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para
conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós.6 Porque já houve
dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá
lavoura nem sega.7 Pelo
que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e
para guardar-vos em vida por um grande livramento.8 Assim não fostes
vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e
por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito.9 Apressai-vos, e
subi a meu pai, e dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho José: Deus me tem posto
por senhor em toda a terra do Egito; desce a mim, e não te demores;10 E habitarás na
terra de Gósen, e estarás perto de mim, tu e os teus filhos, e os filhos dos
teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e tudo o que tens.11 E ali te
sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças de
pobreza, tu e tua casa, e tudo o que tens.
Roberto DaMatta - O
Estado de S.Paulo
No ocidente de todas as racionalidades
(inclusive as irracionais, voltadas para a destruição como premissa médica,
missão civilizadora e imperiosa necessidade), os sonhos sempre foram ligados ao
futuro. Ao que pode ou, nos casos dos adivinhos mais radicais, ao que vai
ocorrer.
Não é, pois, por acaso, que quando Freud
contestou essa "verdade verdadeira", ao mostrar que os sonhos falavam
mais do passado, e do que estava dentro de cada um de nós, do que do mundo
exterior e dos eventos vindouros, ele causou tanta celeuma.
Antes dele, o maior intérprete de sonhos
do nosso universo
judaico - cristão - capitalista - marxista - leninista - fordista - nazista - populista - chapliniano - pós - contemporâneo...
(pense e acrescente o que você quiser, caro leitor...) era o bíblico José do
Egito, revivido em quatro volumes de 400 páginas cada um por Thomas Mann.
Se o genial Lévi-Strauss realizou a
façanha de interpretar mitologicamente, nas suas mitologias (quatro volumes de
400 páginas cada - eis o número quatro novamente), mais de 800 mitos dos
ameríndios, circunscrevendo-os em fórmulas canônicas e revelando aspectos
surpreendentes do chamado "pensamento selvagem"; Thomas Mann realizou
o inverso: ele transformou um mito sagrado numa meditação independente de prova
teológica ou política - essas legitimações ancoradas na autoridade suprema,
indiscutível e anti-humana, como gostam os idiotas - cerca de 25 versículos do Gênesis.
Fez de versículos para serem lidos num
templo um romance que fala direta e pessoalmente à alma e ao coração de um
leitor, não de um crente.
Escreveu um sonho feito não de mitos
pensando mitos, mas de um mito repensado como uma narrativa humana, na qual a
afeição ou o amor pelos outros é o fio.
Na literatura não se prova nada - exceto
o amor do sonhador pelo sonhador que lê. Eis sonhar pelo sonhar. Esse ato
exclusivamente humano realizado por quem joga fora toda uma vida pintando,
compondo, lendo, ensinando e pelo tal "amor à arte". Esse amor que
não precisa de registro, reconhecimento ou memória. Coisas de quem corta a
orelha e confunde meios e fins, de quem destroca sonhos e realidade...
* * * *
Quem joga no bicho, essa brasileiríssima
instituição encoberta pela nossa notória mendacidade oficial, sabe que um dos melhores
palpites para "acertar" num bicho e ganhar uma bolada é um evento
impossível de ser programado. Um sonho nítido, a morte súbita de um ente
querido, um acidente de automóvel envolvendo uma celebridade, a data de uma
cobrança esquecida. Tudo o que é desenhado pela mão invisível do imprevisto, do
acaso ou da inocência, é um bom palpite. É um aviso esperançoso. Pode
transformar uma pessoa comum em um barão acima das leis e da necessidade de
trabalhar.
* * * *
O melhor palpite é feito do casamento do
imprevisto (quase sempre doloroso) com a esperança. O que, na maioria dos
casos, constitui o infortúnio e promove o ódio, a frustração, a culpa e o
ressentimento - esses demônios recorrentes da vida.
O jogo atrai porque, entre outras coisas,
ele possibilita arriscar na ausência do acaso. Se tudo segue uma ordem, se tudo
foi planificado, se o dia de ontem foi tranquilo, por que não se pode acertar
num evento futuro?
O sonho previsível, porém, pode virar o
infortúnio que leva a uma dolorosa questão: por que ocorreu comigo?
Essa é a pergunta que consome as
cosmologias porque ela denuncia (ou anuncia) catástrofes e, simultaneamente,
abre a pessoa ou o sistema aos êxitos de emergência.
O jogo do bicho me ensinou, por
intermédio de minha avó Emerentina que teve dois maridos, o primeiro morto por
assassinato, perdeu mais filhos do que comanda qualquer carma ou holocausto,
mas não abandonou o gosto de viver e jogar - há diferença? -, só no despotismo
é que não há fortuna sem infortúnio; ou domingo sem segunda-feira.
No livro A Ponte de São Luis Rey, Thornton Wilder
trabalha esse problema por meio do irmão Junípero que, como o antropólogo
inglês Edward Burnett Tylor, criador do conceito de cultura e inventor da
antropologia da religião, entendia que "se há leis em algum lugar, deve
existir lei em toda parte". A determinação dos destinos era o foco do
franciscano que fazia uma tabela dos pecados e virtudes dos seus paroquianos.
Alfonso tinha a nota 4 em bondade e em piedade, mas 10 em trabalho pelo bem
comum; Vera, porém, tinha 10 em trabalho pelo bem comum e piedade, mas 0 em bondade! Não havia
coerência: as ações humanas mais precisas têm consequências imprecisas.
* * * *
Há lógica na alternância do dia e da
noite - exceto nos eclipses. O problema é que não há ser humano que não precise
de uma lua azul ou de um sol camuflado. Ou de chuva com sol. O problema não é o
infortúnio que marca a maioria das vidas. É como eles são tratados. Por isso o
sonho tem que ser sonhado - interpretado - como José fez com o deus rei faraó.
Anos de fartura se seguem a anos de penúria. Os cavalinhos continuam correndo e
os cavalões comendo, como na poesia de Bandeira. E nós vamos continuar
assistindo a essa medíocre ladroagem geral sem dizer nada? Sem sonhar?
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