Para aqueles que estão sendo vítimas conscientes e se empanturram dos BBB’s e outros reality shows.
Is.55.2: Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão! e o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? ouvi-me atentamente, e comei o que é bom...
João Pereira Coutinho, colunista da Folha, que vive em Portugal, abre um espaço de reflexão, ao relatar a história de Jade Goody, a inglesa que resolveu fazer da sua vida um reality show, após se descobrir com câncer terminal.
O que ela fez com a sua vida ou final de vida, com apoio de sua família, não é o destaque do colunista, mas sim o que as pessoas fazem, de maneira antiética ou mórbida, ao ligar a sua TV para assistirem este tipo de produção, sejam os shows de enclausuramento voluntário, em troca de alguns passageiros, minutos de fama, ou seja, reality’s deste tipo, criado por Jade Goody, que, mostrou o sofrimento de um ser humano, no fim de sua vida.
Britânica que sofria de câncer cervical morreu na madrugada de domingo em casa, como era desejo dela.
Jane Goody faleceu aos 27 anos.
Após seis meses de batalha contra um câncer cervical, a atriz e ex-participante do Big Brother britânico, Jade Goody, 27 anos, morreu em casa, em Essex, na Inglaterra, na madrugada deste domingo. Jade ficou conhecida na versão britânica do reality show em 2002.
Segundo o tablóide inglês The Sun, a jovem morreu ao lado da mãe e do marido, Jack Tweed, 21 anos, na data em que se comemora o dia das Mães na Inglaterra. "Jade morreu às 3h55. A família e amigos gostariam de ter alguma privacidade", disse a mãe, ao aparecer do lado de fora da casa para acompanhar a remoção do corpo da filha.
Afinal, a vida perdeu o valor?
A compaixão e valor da dor do outro é para ser assunto de discussão nas conversas da segunda-feira?
Cl.3. 5: Exterminai, pois, as vossas inclinações carnais...a impureza, a paixão, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria;
I João 2. 16: Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.
Jd.1.16:..a sua boca diz coisas muito arrogantes, adulando pessoas por causa do interesse.
Rm.1. 28.ss: E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a..cobiça...inventores de males, desobedientes ao pais;sem afeição natural, sem misericórdia;o decreto de Deus, que declara dignos de morte...não somente as fazem, mas
também aprovam os que as praticam.
Leia a matéria.
Comedores de lixo
Que dizer da história de Jade Goody? Caso não saibam, Jade Goody foi concorrente do Big Brother britânico, notabilizando-se por sua linguagem e comportamento vulgares.
A Grã-Bretanha rendeu-se a ela e encontrou em Goody um novo símbolo da "informalidade" proletária que faz parte da nossa modernidade.
Acontece que Jade adoeceu gravemente (com câncer). A notícia fatal, aliás, foi comunicada à própria em pleno programa televisivo, fazendo disparar as audiências. Mas o melhor ainda estava para vir: se Jade tinha câncer terminal, o melhor era morrer em frente às câmeras, proeza que
Jade tem cumprido com profissionalismo de Hollywood. Das operações cirúrgicas às sessões de quimioterapia, sem esquecer o seu casamento-relâmpago, Jade aproveita as últimas semanas de vida para mostrar ao mundo o seu lento caminho para o fim. Não é de excluir que a tv filme o seu último suspiro. Os produtores garantem que não. Mas se as audiências exigem tudo, por que raios não devem ver tudo?
Essa é a questão.
O caso de Jade tem alimentado debates inflamados na Grã-Bretanha. A discussão centra-se, invariavelmente, na falta de ética da televisão contemporânea, que se aproveita de uma mulher
moribunda para fazer negócio. Vozes moralistas condenam os produtores, exigindo rápida intervenção do governo. E Jade Goody, quando confrontada com a pornografia do seu ato, afirma simplesmente que está a pensar nos filhos: duas crianças que ficarão sem mãe em breve e que, graças à prostituição sentimental de Jade, herdarão 1,7 milhões de euros.
Pessoalmente, nada tenho a dizer: sobre Jade Goody e muito menos sobre a tv que filma a sua decadência física. Mas estranho que, no meio da gritaria, ninguém tenha dito o básico. E o básico não está na moribunda, muito menos na tv que filma a moribunda. O básico está numa população anônima de milhões de britânicos que permitem a existência desse caso, consumindo-o com voracidade mórbida.
O fenômeno Jade Goody, e a repugnante vontade de o filmar até ao limite, não existiria se as audiências não existissem.
Uma verdade banal? Longe disso. Uma verdade politicamente incorreta: no mundo radicalmente igualitário em que vivemos, não é de bom tom relembrar que as massas nem sempre escolhem com sabedoria e pudor. As massas são muitas vezes analfabetas e repugnantes. O pensamento politicamente correto prefere antes demonizar os produtores (no fundo, os "capitalistas") que exploram a pobre ingenuidade do povo.
Um erro. E uma grosseira piada. Se existe doença neste caso, ela não está em Jade Goody ou no circo televisivo que a filma. Está nos comedores de lixo: gente que liga a tv para se empanturrar, literalmente, até a morte.
João Pereira Coutinho, 32, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Ed. Quasi), publicado em Portugal, onde vive. Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.
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