O jornalista inglês lança o livro ‘O Poder e a Glória - O Lado Negro do Vaticano de João Paulo II’. A obra questiona a personalidade e o caráter de um dos maiores mitos da recente história da Igreja Católica.
Bruna Fioreti
David Yallop
O mesmo homem que escreveu sobre o assassinato do papa João Paulo I na década de 1980 diz que decidiu mostrar um lado nada edificante da trajetória de João Paulo II. Baseado em pesquisas e relatos colhidos no Vaticano, o jornalista inglês David Yallop, 70 anos, lança dúvidas sobre o caráter de um dos líderes mais queridos da Igreja Católica em: "O Poder e a Glória - O Lado Negro do Vaticano de João Paulo II". Em visita ao Brasil, o escritor concedeu entrevista exclusiva ao JT e usou palavras duras para classificar Karol Wojtyla, morto em 2005. E afirmou que Bento XVI refaz o percurso do antecessor.
Como teve acesso a informações secretas sobre João Paulo II?
Geralmente, isso vem por investigações, pessoas que trazem informações novas. Mas, nesse caso, foi mais fácil do que eu esperava porque fiz livros ligados a essa história. Além disso, já tinha sido crítico com João Paulo II. Quando ele se tornou papa, em 1978, a primeira coisa que disse foi que seguiria a linha de João Paulo I, mas desfez o programa do antecessor. Eu sabia disso, conhecia o programa. Quando (o livro) Em Nome de Deus foi publicado, em 1984, ficou claro que o Vaticano estava agindo de maneira criminosa com relação ao Banco do Vaticano. Uma enorme quantia em dinheiro sumiu, e o Vaticano acabou repondo uma parcela. Disseram ‘Não somos culpados pelo que aconteceu, mas está aqui o dinheiro (risos).’ Ficou claro que João Paulo II estava protegendo certo tipo de pessoas, continuamente.
Protegendo como?
Muitas vezes chegavam ao papa e diziam que outras pessoas da Igreja eram corruptas e ele ignorava. Qual a maior corrupção de João Paulo II? Não agir. O Banco do Vaticano, em tese, deveria ajudar fundações ligadas à Igreja, mas também é usado para empresários italianos, máfia. Isso desde a década de 1960. O papa não fez nada a respeito disso. Os lucros da máfia vão para drogas, prostituição e outros crimes no mundo todo. O banco é controlado pelo papa. Ele sabe tudo o que está acontecendo ali. Esse papa permitiu que essas coisas acontecessem. Corrupção por não fazer nada, não por estar envolvido.
Afirma que o papa foi corrupto?
Falou a verdade em muitos momentos, mas evitou ser confrontado mais do que qualquer homem que conheço. E suprimiu coisas. Nesse aspecto, foi corrupto.
O livro fala sobre a ação da Igreja contra a pedofilia. Como foi?
Em todo país que há padres católicos há pedofilia. E o papa sabia disso e desde muito antes (da ação). Em 1985, teve acesso a um documento de mais de 200 páginas feito por dois padres que falavam de leis que a Igreja deveria fazer para diminuir a pedofilia. Wojtyla arquivou.
Por quê?
Porque ele não fazia nada. Desde quando era um padre novo na Polônia, tinha a mesma política de abafar escândalos. Para falar como ele ‘em cada casa deveria ter um quartinho onde se resolve esses probleminhas’. Um dos exemplos foi com os Legionários de Cristo, no México, fundado por Marcial Maciel Degollado, descoberto por abusar de garotos na década de 1940. Era assim: se você fosse uma garota no confessionário, o padre colocava as mãos nos seus seios e dizia: ‘Deus pediu para você fazer um bebê comigo’. E uma garota em particular fez um bebê com o religioso. A outros padres também era permitido acariciá-la. Seis ou sete padres se juntaram e a violentaram. Nem recomendaram a ela tomar pílula. Ficou grávida. A Igreja ajudou levando-a para fazer um curso nas Filipinas.
Isso é um padrão, acontece sempre. Esse é o tipo de homem de João Paulo II. Entrevistei uma das vítimas abusadas sexualmente por Maciel e tudo o que queria era um pedido de desculpas. Ele disse ao menino que, se o acariciasse, sua dor de estômago melhoraria. Maciel ainda é vivo, e a organização está florescendo. O papa João Paulo II chegou a elogiá-lo pelo ‘trabalho edificante para a juventude’. Não apenas o protegeu, como o apoiou. É terrível. Se você vai à Igreja, a pessoa mais perigosa lá é o padre. Como deixar uma criança sozinha com um deles?
Outros papas teriam se omitido?
Alguns acobertavam, mas me concentrei em João Paulo I antes de Wojtyla. E ele foi assassinado porque queria fazer o certo, queria implantar o controle da natalidade, reformular o Banco do Vaticano e sabia da corrupção. Antes dele, não havia evidências de que os demais (papas) sabiam.
E Bento XVI segue a mesma linha?
Leia Mais:
Um comentário:
Muito boa a reportagem. É muito importante colocar esse tipo de informação ao alcançe da sociedade, para que saibam o tipo de ministro que milhões de pessoas se submetem...inclusive recebem essas figuras em seus países aplaudindo e adorando o que eles melhor sabem fazer: idolatria, abusos sexuais, omissões...
Postar um comentário